sexta-feira, 1 de maio de 2015

A efemeridade das tribos virtuais


O surgimento da internet permitiu a criação de um ambiente de socialização diferente do real em muitos aspectos. Ainda é difícil analisar com precisão os impactos causados pela internet porque vivemos seus momentos iniciais, mas as mudanças na dinâmica social são perceptíveis. Com o desenvolvimento das tecnologias digitais, o fluxo de informação e as conexões entre usuários tornaram-se tão intensas que a relações interpessoais passaram a demonstrar certa dependência do mundo virtual. “Talvez estejamos vivendo uma reversão do processo de isolamento individualista moderno, buscando, pelas tecnologias (o que é estranho) uma nova forma de agregação social (eletrônica, efêmera e planetária), o que chamo de agregação eletrônica”[1].

O conceito de tribo, por exemplo, foi resgatado e adaptado para o ambiente digital. Inicialmente, tribo designava um grupo de pessoas que participavam das mesmas atividades, estavam submetidos às mesmas leis e compartilhavam da mesma cultura. No tribalismo urbano, um fenômeno virtual, a construção da identidade, chamada de máscara ou persona, está apoiada no outro. As tribos virtuais são constituídas de microgrupos que têm como objetivo principal estabelecer redes de amigos com base em interesses comuns. A grande promessa das redes sociais é exatamente a de reunir pessoas que compartilhem dos mesmos gostos. Um exemplo é o aplicativo “Tastebuds”, disponível para iPhones e iPads. O aplicativo conecta o usuário com pessoas que possuam gostos musicais semelhantes e que estejam próximas. 

A portabilidade dos aparelhos eletrônicos pode ser apontada como um dos catalisadores no processo de “enlaçamento virtual”, e os aplicativos como ferramentas com as quais esses laços podem ser criados. O que irá diferenciar uma tribo moderna das constituições das tribos arcaicas é o fato delas serem efêmeras e não totalmente agrupadas; das pessoas poderem pertencer a várias tribos diferentes; dos laços pós-modernos das tribos serem conceituais; e por seus membros relacionarem-se pelo compartilhamento de sensações[2]. Um dos fundadores do Tinder, conhecido aplicativo de paquera, declarou que “o objetivo da plataforma é formar uma conexão e, não necessariamente, encontrar com alguém pessoalmente”. Como balanceador dessas relações efêmeras surgem outros aplicativos que apostam nas conexões formadas entre pessoas com proximidade social e espacial. É o caso do Kickoff, aplicativo semelhante ao Tinder, mas que baseia-se no círculo de amigos para sugerir possíveis perfis. 


Espaços virtuais transformaram-se em locais onde é quase inadmissível não possuir um perfil em alguma rede social. Na maioria dos sites é improvável não encontrarmos um hiperlink que permita a criação de um perfil, um acesso exclusivo para usuários ou a personalização de uma página de acordo com as preferências de quem a acessa. Essa é uma das estratégias que o Facebook utiliza para manter-se no mercado: dividir sua audiência pelos seus interesses em diferentes aplicativos e investir nas plataformas móveis (Instagram, Messenger, Whatsapp) para recolher informações mais detalhadas sobre o usuário. Essas estratégias ajudam o algoritmo do Facebook a entender qual o melhor lugar para ele impactar os usuários com publicidade e assim a empresa deixa os anunciantes mais satisfeitos. Bernard Cova (1997) diz que as empresas que pretendem direcionar seus negócios para as organizações sociais no formato de tribos, devem tirar o foco das relações clientes-empresa e passar a privilegiar a relação entre os clientes[3]. A fidelização das relações virtuais pela forma cognitiva é substituída pelas relações afetivas.

Fontes
[2] COVA, Bernard e COVA, Véronique. Tribal Marketing: the tribalisation of society and its impact on the conduct of marketing. European Journal of Marketing, Vol. 36, nº 5/6, pp. 595-620, 2002.

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