segunda-feira, 15 de junho de 2015

Aplicatividade

Durante os último três meses, abordamos diferentes temas na área da tecnologia da comunicação na tentativa de relacionar fenômenos sociais e os serviços oferecidos por esses  softwares. Os aplicativos de encontro conseguem refletir a cultura das tribos no campo virtual? A tecnologia móvel está afastando ou aproximando as pessoas? Como a produção audiovisual está se adaptando a mobilidade dos suportes digitais? Para além de  fornecer respostas para essas perguntas, por vezes perguntas cujas respostas ainda estão inacessíveis, o nosso objetivo principal foi trazer diferentes reflexões sobre os temas propostos e relacionar objetos que superficialmente não exibem nenhuma conexão entre si. 

No cenário tecnológico atual, a convergência de diferentes serviços em um único aparelho tecnológico está cada vez mais presente. Diante de objetos que processam textos diferentes para realizar atividades distintas (cuja linguagem é fundamentalmente a mesma), os aplicativos móveis servem como ferramenta para simplificar, reunir, organizar, customizar e apresentar, em uma interface digital, as potenciais funções do aparelho. Como grande parte da comunicação e das relações sociais acontecem através de aparelhos como smartphones, tablets e notebooks, os aplicativos tornam-se interessantes objetos de estudo e discussão. Abaixo encontra-se um breve resumo das principais postagens:


0- “Bolha de filtro” e serendipidade foi o tema de abertura do Aplicatividade. Os algoritmos que fazem os motores de busca funcionarem podem atuar como vilões da livre informação ou como grandes colaboradores da serendipidade. Falamos sobre como a personalização do conteúdo pode interferir na percepção do mundo e na forma como as pessoas se relacionam, mas...


1- Nós somos sujeitos passivos diante da tecnologia? A ferramenta tem poder de influência tão forte a ponto de reforçar ou romper definitivamente o isolamento do sujeito, por exemplo? No texto “A nossa relação com…”, nós defendemos que não é bem assim… Entretanto, admitidos que, em um nível diferente, somos vítimas da indústria tecnológica quando o assunto é obsolescência programada.  


2- A aparência do mundo moderno parece estar baseado nas coisas efêmeras: as informações aparecem e somem rapidamente; os relacionamentos começam e terminam em pouco tempo e os aparelhos são criados, mas logo  ficam velhos. A efemeridade da tecnologia está sendo refletida nas relações sociais? Expomos esses questionamentos no texto “Como os app’s junto aos novos meio de comunicação interagem com a sociedade” e também trazemos as reflexões sobre as mídias velhas e novas. Por falar em mídias novas...


3- ...em “A Era do Conteúdo Digital…”, os desafios para os produtores de conteúdo nas novas mídias digitais são abordados. O conceito de mídia, incluindo as móveis, está cada vez mais complexo no contexto de inovação digital. Surge um novo sistema de comunicações em que se fala de cultura de participação.


4- No mesmo campo, diferentes culturas encontram terreno fértil para se desenvolverem. Discutimos o tribalismo em “A efemeridade das relações sociais” e voltamos a discutir alguns pontos levantados anteriormente ao falar sobre a geração da era digital, onde o indivíduo dissolve a sua identidade dentro de uma tribo, um grupo. E por falar em grupo...


5- O post “Cyber/hacktivismo e sua mobilidade na internet” é onde discutimos sobre os grupos mais famosos (e provavelmente os mais influenciáveis) da internet. Onde estiveram os hackers na era da tecnologia analógica e onde eles estão na era da tecnologia digital? Tentamos traçar uma linha entre o que pode ser considerado um movimento político na cultura hacker e o que pode apenas contribuir para a fragilidade da segurança.


6- Toda informação produzida na internet deixa rastros sobre nós, isso é, produzem dados, tecem perfis e, acima de tudo, possibilitam vigiar o nosso comportamento. No texto “Sorria, você está sendo filmado”, falamos sobre o sentimento de exposição, a insensibilidade à exposição.


7- Qual a extensão da realidade pode ser captada e traduzida para o mundo virtual? As novas tecnologias fizeram surgir a chamada ‘desterritorialização informacional’. Se trata da “fuga” da informação. Os conceitos de realidade aumentada e realidade virtual estão próximos da noção de fuga da informação, em um sentido  diferente, e em “Os app’s como ligação entre o real e virtual” nós explicamos o porquê.


8- Por fim, em “Arte e tecnologia: novas experiências”, discutimos como a arte do mundo real pode estar imersa no mundo virtual e vice-versa. Essa mistura propicia novas possibilidades, a principal característica da arte pós-moderna é nitidamente a hibridez, a reapropriação através de novas técnicas. Tanto arte quando tecnologia se baseiam em reinvenção.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Arte e Tecnologia: novas experiências

O termo tecnologia vem da palavra técnica que, por sua vez, deriva do grego techné, cuja tradução, veja só, é ARTE! Ou seja, arte e tecnologia são coisas interligadas desde a origem. Engana-se assim quem acha que tecnologia só tem a ver com aparelhos eletrônicos. Ela está além disso, assim como arte está além de pinturas clássicas. 

Tecnologia é basicamente o uso do raciocínio colocado em prática. E o que é a arte senão uma prática? Embora arte possa ser tantas outras coisas, o dicionário Michaelis, a define como a execução prática de uma ideia. Os produtos da fusão de arte e tecnologia são enriquecedores para o ser humano e a cultura. Essa mistura propicia novas possibilidades, a principal característica da arte pós-moderna é nitidamente a hibridez, a reapropriação através de novas técnicas. Tanto arte quando tecnologia se baseiam em reinvenção.

A fotografia, o cinema e a televisão causaram um boom cultural em todo o mundo. Isso gerou maior circulação de informações através do suporte de produtos artísticos que alcançavam e ainda alcançam milhares de pessoas pelo encantamento. "A arte na era eletrônica vai abusar da interatividade, das possibilidades hipertextuais, das colagens de informações, dos processos fractais e complexos, da não-linearidade do discurso... A ideia de rede aliada à possibilidade de recombinações sucessivas de informações e a uma comunicação interativa, tornam-se os mentores principais dessa ciber-arte. A arte eletrônica é uma arte da comunicação." (André Lemos)

No último domingo (7), a cantora islandesa Bjork lançou um videoclipe inovador da música "Stonemilker", que proporciona ao expectador uma visão da câmera em 360º. O clipe foi exibido inicialmente no MoMa - Museu de Arte Moderna de Nova York - com a tecnologia de Óculos Rift, que só deverá ser lançada para consumidores em 2016, possibilitando uma experiência quase de vivência do momento tristonho na praia nublada de Bjork. O mais interessante é que o Youtube fez uma adaptação que permite mover a câmera com o cursor ou pelas setas no canto superior do vídeo. Experimente:


Bjork é um dos principais símbolos da estética de vanguarda hoje. Esse clipe explora a interatividade, incita a colaboração do receptor, possibilita um experiência nova. "A arte virtualiza as virtualizações, tentando saída de situações limitadas a um aqui e agora físicos e/ou simbólicos (...). Toda arte é virtualização de uma virtualização, já que ela procura trazer ao sensível problematizações do real e alargar os limites do possível". (André Lemos)

Assim como a fotografia, que enfrentou resistência na época do seu surgimento, as novas mídias também estão preocupando alguns artistas. O aplicativo Instagram, por exemplo, que permite postar imagens e vídeos com filtros e compartilhá-los com o mundo todo tem intrigado alguns fotógrafos profissionais. Muitos usuários do aplicativo têm sido reduzidos ao termo "fotógrafos de instagram", uma maneira pejorativa que desqualifica o direito à livre expressão do outro.  Para os fotógrafos profissionais mais conservadores, os "fotógrafos de instagram" são pseudo-fotógrafos.

Existem grandes vantagens na tecnologia disponível hoje e os próprios museus já notaram e andam se aproveitando disto. Tanto é que grandes museus como o MoMa, o Tate Gallery, The New Museum, Museum of Sex possuem contas no Instagram. Basta clicar sobre o nome deles para ser direcionado às páginas. Mas é claro que eles não mostram tudo, afinal, a visita pessoal aos museus proporciona uma sensação diferente e, quem sabe, mais rica, mais arrebatadora.

A Google criou uma ferramenta online chamada Google Art Project, que disponibiliza diversas coleções de arte de museus do mundo todo em imagens de alta resolução com informações acerca delas. Isso é grandioso se considerarmos o fato de que muitas pessoas poderão ter acesso à essas obras de forma gratuita, afinal viajar para vê-las é realmente dispendioso para a grande maioria. A plataforma é excelente e torna a experiência quase tão boa quanto visitá-las pessoalmente. Walter Benjamin tinha uma visão democrática sobre a arte, embora a reprodutibilidade técnica tenha facilitado a perda da aura, ele acreditava nela como instrumento de iluminação e esclarecimento da sociedade. Ou seja, surge aí uma nova lógica cultural a partir do uso mais intenso da tecnologia, lógica essa que disponibiliza a arte para um maior número de pessoas.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Os app's como 'ligação' entre mundo real e virtual

Quando tinha 10 anos o espaço pra mim se resumia, basicamente, ao meu bairro; o caminho que fazia de casa para escola e vice-versa. Às vezes, ele se extendia até a casa de praia e o interior onde meu pai nasceu. Quando passei para o ensino médio em uma escola localizada no centro, meu mundo cresceu e era do tamanho da minha cidade. Agora, quando me mudei para a capital para estudar jornalismo, meu mundo rompeu todas as barreiras. Ele não é mais o lugar onde moro, não é apenas Salvador. Vi que o mundo vai até um limite que nem posso imaginar.


É, minha noção de espaço se transformou radicalmente durante meus 18 anos. Isso mostra que a definição de espaço ultrapassa a idéia óbvia de ‘espaço como a demarcação de um pedaço de terra’; está relacionada com questões econômicas e culturais, por exemplo. Ele é, na verdade, uma construção e se constitui na relação entre os lugares e as coisas. Os lugares são criados e expandidos através do discurso. As salas de aula, por exemplo, foram criadas para abrigar o discurso escolar e universitário. Antes desse discurso, ela não ‘estava lá’ pronta para receber alunos e professores.


A determinação de um espaço está relacionada com o exercício do poder; sobre as pessoas, sobre outro país, em relação aos outros animais. E, justamente, por envolver poder, sofre constantemente processos de territorialização e desterritorialização. O primeiro está relacionado à tentativa de controle do espaço; delimitando-o, definindo regras que funcionem dentro de suas fronteiras; as lei são um exemplo. Já o segundo, significa a fuga do primeiro; o aplicativo Waze avisa os locais com blitz na cidade e, assim, tenta bular a aplicação da Lei Seca que, por sua vez, é uma forma de territorialização.


As novas tecnologias fizeram surgir a chamada ‘Desterritorialização Informacional’, como menciona o professor André Lemos em artigo sobre Ciberespaço e Tecnologias Móveis. Se trata da “fuga” da informação. Com as novas tecnologias, dispositivos móveis e wifi não há mais total controle sobre as informações que circulam na internet. Trecho retirado do artigo:


“A desterritorialização informacional afeta a política, a economia, o sujeito, os vínculos identitários, o corpo, a arte. A internet é, efetivamente, máquina desterritorializante sob os aspectos político (acesso e ação além de fronteiras), econômico (circulação financeira mundial), cultural (consumo de bens simbólicos mundiais) e subjetivo (influência global na formação do sujeito)”.

Diamantino Alves Pereira fala no seu artigo "O território e o lugar na vida cotidiana metropolitana" sobre como os SIGs (Sistemas de Informações Geográficas) vêm penetrando a vida de usuários em suas atividades cotidianas. Os aplicativos do Google Maps e Google Earth, ou ainda aqueles utilizados nas buscas de endereços na Internet, são decorrentes dos processos de complexificação do meio urbano e da nossa relação com ele. A necessidade dos uso dessas ferramentas quando saímos do que ele chama de "nosso lugar"; quanto mais longe do nosso bairro e ruas familiares, mais difícil torna o reconhecimento do espaço. O app Territorio Huidizo (Território Volúvel) explora a capacidade da tecnologia criar novas formar de habitar o espaço público, estabelecendo relação entre espaço físico e paisagem humana construída pelos usuários que registram suas experiências com uma mensagem de voz.

As novas tecnologias trazem também o "poder" de romper com as barreiras entre o mundo real e virtual. Dá uma olhada na campanha de 2014 da loja de decoração IKEA, que, através de um aplicativo, faz uso divertido da realidade aumentada (olhar explicação depois), mas mostra como essa tecnologia pode ter uso prático no dia-a-dia, ajudando por exemplo na hora de decorar a casa:

                                   

Então, realidade aumentada é a inserção de objetos virtuais no ambiente físico, com o apoio de algum dispositivo tecnológico, mostrada ao usuário, em tempo real e usando a interface do ambiente real. Outro exemplo de app de realidade aumentada é o Augment !

Seguindo na linha "contrária", está a realidade virtual. Ao invés de objetos virtuais serem inseridos no mundo real, na realidade virtual o usuário tem a sensação de estar inserido em um ambiente virtual. O vídeo abaixo explica o conceito e traz aplicações práticas dessa tecnologia: 

                                  

Veja esse TOP 5 dos app's que fazem uso da realidade virtual !



sexta-feira, 22 de maio de 2015

Sorria, você está sendo controlado!

Vivemos hoje a sociedade do controle, do monitoramento e da vigilância. Toda informação produzida na internet deixa rastros sobre nós, isso é, produzem dados, tecem perfis e, acima de tudo, possibilitam vigiar o nosso comportamento. Isso, indiscutivelmente, tem repercussões para futuro na medida em que transforma a subjetividade de como nos relacionamos com o mundo.

Na visão de Michel Foucault, a disciplina é uma arma essencial para o funcionamento da sociedade na economia, política e na guerra. Isso acontece porque seres humanos disciplinados são “corpos dóceis”, isso é, de fácil controle. Nesse sentido, para controlá-los é preciso observar, registrar e impor a disciplina sem força excessiva. Segundo o filósofo, a sociedade é marcada pelo desvio à norma, portanto, interiorizar a culpa e causar remorsos seria a única forma de garantir o cumprimento das regras.

Em 1789, Jeremy Bentham idealizou o dispositivo disciplinar que melhor exemplifica as ideias foucaultianas e que marca parte da estrutura social e do poder atuais: o panóptico, um sistema de segurança caracterizado pela “visão desigual”. Ou seja, consiste num ponto de vigilância central e alto diante de uma prisão circular e panorâmica. Assim, quem está vigiando vê tudo, mas, quem está sendo vigiado não consegue ver se tem alguém olhando. É uma espécie de prisão “mental” marcada, principalmente, pela autocensura e autodisciplina, a própria estrutura já exerce a vigilância.

A visão panóptica mostra como a sociedade se constitui, até hoje, a partir de formas de vigilância que exercem poder sobre as pessoas. A vigilância por câmeras de segurança é um exemplo atual disso. Elas mudam o comportamento dos indivíduos e criam sujeitos inseguros. A partir do momento que instala-se uma câmera em um local, significa que algo perigoso já aconteceu ou pode acontecer naquela região.

Com uma câmera, a constituição do sujeito se altera. Coloca-o em um regime de vigilância temporal. Assim, a materialidade desse equipamento não é neutra, já que ele é colocado por um homem que não é imparcial. Todo dispositivo é uma atitude, isso é, teve a atitude de produzi-lo e de coloca-lo naquele lugar. Assim como no panóptico de Bentham, a materialidade da câmera institui o poder.

Hoje a situação se torna um pouco mais preocupante: existem câmeras com softwares poderosíssimos que não olham para todos os lugares, elas dirigem o olhar e monitoram comportamentos suspeitos, fora dos padrões. Há modelos estatísticos do que seria um comportamento normal. Usar jaqueta no verão, por exemplo, é considerado um comportamento esquisito. A partir disso, a câmera guia seu olhar para a pessoa. As câmeras do metrô de São Paulo são exemplos, podem monitorar comportamentos estranhos e se a pessoa é procurada pela polícia. Alguns países usam esses softwares com o argumento de evitar o terrorismo. Isso é extremamente assustador, pois, pior do que o modelo foucaultiano, todas as pessoas passam a ser suspeitas. 


O RFID (Identificação por rádio frequência) é um exemplo claro de vigilância. Trata-se de um chip que é capaz de vigiar, à distancia, desde produtos até indivíduos. Concentra todas as informações dos indivíduos em banco de dados.

Outro sistema de vigilância que atualiza isso é o de Gilles Deleuze, a Sociedade do Controle. Nesse modelo, não se trata mais de confinar, vigiar e punir, como previa Foucault, mas de usar as novas tecnologias para o controle social. Consiste em deixar o movimento acontecer e, com isso, extrair dados que geram um controle eficaz, contudo, muito mais perigoso.

O princípio da disciplina de Foucault continua, já que os indivíduos entregam seus dados voluntariamente à vigilância (pelos logins em sites, pelo GPS do celular, por compras em cartão de crédito, etc), o que não é, necessariamente, ruim. Controle não é necessariamente negativo. Controlar os dados estatísticos, por exemplo, pode significar gerar políticas publicas eficazes. Depende de quem e como exerce esse controle. O estado, por exemplo, tem o dever de controlar para conseguir produzir políticas públicas.

A publicidade usa esse controle para direcionar o marketing de forma individualizada, é o chamado marketing one to one. Dessa forma, sugere produtos que, pelo perfil de compra do consumidor, provavelmente ele comprará. Isso pode ser invasivo ou ajudar o consumidor na compra.
A grande mudança é no tempo e precisão dessas estatísticas. O que antes era um processo de pesquisa trabalhosa e com uma amostra pequena da população, se tornou um dado disponível em tempo real e que abarca um número muito maior de indivíduos, quase total. Transforma uma sociedade da sondagem em uma sociedade da big data, ou seja, todos os dados coletados.

É possível saber, por exemplo, quantas pessoas, em uma dada região, têm determinada doença sem precisar ir até os hospitais e consultórios, basta ver quantas pessoas pesquisaram os sintomas no google ou compraram tal remédio. A partir disso, pode-se produzir políticas públicas eficazes. 
O que temos hoje, portanto, é uma vigilância difusa e pessoal, um controle invisível. Não existe um objeto que vigia, assim, não dá para ver esse controle. Muitas pessoas nem sabem que estão sendo controladas em tempo real. O panóptico é visível, já a sociedade do controle é fluida, imperceptível, por isso, mais perigosa.

As pessoas tendem a não se preocupar com a privacidade e anonimato já que esses mecanismos (Google, Facebook. Whatsapp, etc.) fornecem gratuitamente um mundo de possibilidades aos usuários. Os dados que são fornecidos por nós, entra em um banco de dados que acaba controlando tudo o que fazemos, onde estamos, como é a nossa rotina, para quem ligamos, etc.

Esse quadro de despreocupação pode mudar um pouco com a internet das coisas, isso é, uma tecnologia que conecta ativos remotos e tem o objetivo de estabelecer conexão entre os objetos através da internet. O objeto percebe o seu ambiente. Dessa forma, uma pessoa pode programar a geladeira para avisar quando acabar o leite, a cafeteira pode ligar assim que a garagem abrir ou pode-se desligar a luz do quarto pelo celular quando está no trabalho.

Atualmente existe um aplicativo disponível no Brasil que usa essa lógica, chamasse IFTTT (If this than that). Através dele, o usuário pode programar o celular para, automaticamente, ficar no modo silencioso assim que chegar no trabalho ou desligar lâmpadas inteligentes assim que sair de casa. (Saiba mais sobre o IFTTT)

A internet das coisas é genial e facilitadora em muitos aspectos, mas pode ser extremamente perigosa. Sempre há o perigo da interceptação do hacker, que, nesse caso, adentra muito mais na vida pessoal do que quando hackeia um computador. Justamente por isso, alguns artigos alertam que pela primeira vez as pessoas vão se preocupar com a segurança. Vão exigir criptografias mais fortes e difíceis de serem hackeadas.

A internet das coisas vem tomando espaço. Hoje, existem mais objetos conectados à internet do que pessoas. A apple, que na última atualização lançou um aplicativo para controlar a saúde, já anunciou que o próximo iOS, terá um aplicativo que permite controlar a casa pelo iphone. O app Home permitirá se conectar com a porta da garagem, luzes, câmeras, etc. (Saiba mais sobre o Home)

Diferença entre CONTROLE, MONITORAMENTO e VIGILÂNCIA
Para melhor entendimento, faz-se necessário diferenciar o controle, o monitoramento e a vigilância. Nem toda forma de controle e monitoramento é vigilância. Controle diz respeito a números. Monitoramento é a tomada de dados sobre determinados eventos, é a junção dos dados para produzir uma informação, uma estatística. E, por fim, vigilância é quando o intuito é prevenir algo no futuro, é mais particular, tenta evitar algo.

Essas definições constantemente se confundem. Quando falamos em aplicativos a coisa vai se complicando e ficando mais complexa. O aplicativo WASE, por exemplo, controla, monitora e serve de mecanismo  contra a vigilância ao mesmo tempo. Ora, o WASE pega os dados e planeja a sua rota, ou seja, tem controle. Pode haver monitoramento, pois se o usuário, ao longo da sua experiência com o app, sabe que determinada rua é sempre engarrafada, ele produz uma informação sobre aquilo e passa a não escolher aquela rota. Além de tudo, o app permite controlar alguém, é possível colocar o nome de um conhecido e saber se ele passa por perto.

O twitter é outro aplicativo que exerce vigilância. É possível seguir as pessoas para saber o que ela está twitando.

Atualmente existem movimentos contra vigilância. Alguns aplicativos, inclusive, foram criados nesse intuito, é o caso do I-see, um app que fornece o caminho de A para B evitando todas as câmeras de vigilância (Saiba mais sobre o I-see). O WASE também exerce essa função. Sua característica contra a vigilância é a mais perceptível. O indivíduo consegue ver onde tem blitz e, assim, burlar a vigilância.

O celular é um instrumento de vigilância e de contra vigilância, pois, pode filmar, por exemplo, a polícia matando alguém ou pode executar aplicativos de contra vigilância, por exemplo. Ele amplia o poder do cidadão de vigiar àquele que o vigia.

Desde a sociedade panóptica até a extração imperceptível de dados, temos o nosso comportamento constantemente controlado, seja através de câmeras ou pelos rastros que deixamos na rede. Portanto, a grande discussão versa entre a segurança e a insegurança a qual nos submetemos. Estamos seguros? Vale a pena a perda do anonimato? É válido abrir mão da privacidade em troca dos benefícios da internet? Essa sociedade do controle produz a nossa subjetividade, muda comportamentos. Não há mais um lugar restrito onde o poder se faça sentir, pelo contrário: ele se faz presente em todos os lugares.

REFERÊNCIAS:
 



sexta-feira, 8 de maio de 2015

Cyber/Hacktivismo e sua mobilidade na internet

Os primeiros vestígios de Cyberativismo surgiram em meados da primeira metade da década de 1990, juntamente com a popularização da internet. Um exemplo disso foi quando a revista Z Magazine ofereceu cursos online através da Online University of the Left, aceitando inscrições no curso de "Utilizar a internet e sistemas eletrônicos para o cyberativismo" por volta de 1998. A forma rápida de como as ideias se propagam através da internet chamou a atenção de ativistas - cujas causas são, normalmente, de cunho ambiental, político ou social -, que costumam divulgar suas mensagens por outros meios de comunicação. 

E o Hacktivismo apareceu quase que de "mãos dadas" com o cyber, por volta da segunda metade da década de 1990; Mais especificamente através do site Cult of the Dead Cow que inclui entre as suas crenças o direito fundamental ao acesso a informações. Geralmente, o hacktivismo consiste na escrita de códigos e manipulação de bits para difundir a ideologia política, promovendo liberdade de expressão, direitos humanos ou informação ética.

Nos dias atuais, os principais exemplos de movimentos cyberativistas foram o do Passe Livre - movimento social brasileiro que defende a adoção da tarifa zero para transporte coletivo -, e o Panelaço - movimento social contra o governo atual -, ocorridos entre o primeiros semestres de 2013 a 2015. Nos dois casos, a comunicação, organização, difusão de ideias e conceitos foi toda feita através da internet, através de redes sociais e seus determinados aplicativos, como o Twitter, Facebook e outros. E pensando em toda essa mobilização, o agente publicitário Marcelo Jereissati Hage Nicolau criou o aplicativo Ipanelaço, um app que reproduz o som das panelas se batendo.

A principal característica do cyberativismo é a utilização da internet para movimentos sociais ou populares. A diferença entre movimentos sociais e movimentos populares é que esse último é pontual, enquanto o social é um movimento organizado e complexo que perdura por um tempo. As etapas do movimento são informar sua existência, adquirir colaboração da mídia para o movimento (sempre com algum objetivo, claro), difusão da informação no sentido de contribuição para as mobilizações (entrevistas que corroboram as teses das manifestações). 

Apesar de estar basicamente tudo à distância de um clique, não quer dizer que o cyberativismo se restrinja apenas a isso. Além do virtual, ainda é necessária a existência do ativismo real, por um ainda ser muito dependente do outro e ambos fazerem parte de um processo que se completa. É preciso também, o comprometimento e conhecimento do/a ativista pela causa que se está lutando e não apenas um clique a mais ou a menos.

Alguns grupos se encaixam no que se pode chamar de “guerrilha midiática” a fim de desmascarar a mídia, mostrando o quanto ela não é confiável, a fragilidade da verdade oficial nas notícias transmitidas. Luther Blissett é um exemplo de um pseudônimo usado por muitos ativistas na realização de denuncias nesta guerrilha. Este nome vem sendo utilizado desde 1994 na Itália e se alastrou pelo mundo. Tornou-se famoso, um herói popular devido as suas ações como intervenções, cartas, falsas noticias, livros; tudo assinado por L.B.

As noticias da primeira aparição ativista social que se tem noticia, são do Exército Zapatista de Libertação Nacional, 1994, em listas de discussão, e-mails e site FTP (Protocolo de Transferência de Arquivos), mas só em 1996 criaram sua própria homepage onde podiam reivindicar os direitos indígenas ao mesmo tempo em que aproximavam seu discurso ao de novos movimentos sociais esquerdistas e ampliavam o seu campo de batalha.

A principal atividade dos hackers é pegar documentos sigilosos e colocá-los em livre circulação (Snowden, Julian Assange da Wikileaks e o Anonymous são dois exemplos atuais) pela internet por um determinado espaço de tempo, apenas o suficiente para o conhecimento geral, e depois criam um sistema criptografado que tornam tais documentos invioláveis. A intenção é democratizar a tecnologia e a informação. Disseminá-la e torná-la mais democrática. Inicialmente não eram engajados politicamente, eram "nerds" que perceberam que podiam fazer isso na garagem de casa. A leitura política veio depois e apareceu mais por curiosidade.

Os primeiros indícios de atividade hacker começou pelo telefone (os phreaks). Perceberam que determinadas frequências permitiam ligações gratuitas. Produziram uma caixinha azul em que ao encostar no aparelho telefônico ele realizava ligações de graça para outras pessoas, além das “party lines” (festas em linhas) onde mandavam trotes para pessoas famosas. Tinha o lado da brincadeira e o lado ativista. E do termo phreaks surgiu o termo hackers, que criaram a micro computação. Os países costumam usar os hackers para a “Guerra Cibernética” É esse engajamento social e político que diferencia os hackers dos crackers, criminosos que vendem e roubam informações, invadem contas bancárias de pessoas comuns... Basicamente, se prejudica a grande população são crackers, se não, são os hackers.



Fontes:



G1

Exame.com
Youtube
Amadeu da Silveira, S. Ciberativismo, cultura hacker e o individualismo colaborativo.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

A efemeridade das tribos virtuais


O surgimento da internet permitiu a criação de um ambiente de socialização diferente do real em muitos aspectos. Ainda é difícil analisar com precisão os impactos causados pela internet porque vivemos seus momentos iniciais, mas as mudanças na dinâmica social são perceptíveis. Com o desenvolvimento das tecnologias digitais, o fluxo de informação e as conexões entre usuários tornaram-se tão intensas que a relações interpessoais passaram a demonstrar certa dependência do mundo virtual. “Talvez estejamos vivendo uma reversão do processo de isolamento individualista moderno, buscando, pelas tecnologias (o que é estranho) uma nova forma de agregação social (eletrônica, efêmera e planetária), o que chamo de agregação eletrônica”[1].

O conceito de tribo, por exemplo, foi resgatado e adaptado para o ambiente digital. Inicialmente, tribo designava um grupo de pessoas que participavam das mesmas atividades, estavam submetidos às mesmas leis e compartilhavam da mesma cultura. No tribalismo urbano, um fenômeno virtual, a construção da identidade, chamada de máscara ou persona, está apoiada no outro. As tribos virtuais são constituídas de microgrupos que têm como objetivo principal estabelecer redes de amigos com base em interesses comuns. A grande promessa das redes sociais é exatamente a de reunir pessoas que compartilhem dos mesmos gostos. Um exemplo é o aplicativo “Tastebuds”, disponível para iPhones e iPads. O aplicativo conecta o usuário com pessoas que possuam gostos musicais semelhantes e que estejam próximas. 

A portabilidade dos aparelhos eletrônicos pode ser apontada como um dos catalisadores no processo de “enlaçamento virtual”, e os aplicativos como ferramentas com as quais esses laços podem ser criados. O que irá diferenciar uma tribo moderna das constituições das tribos arcaicas é o fato delas serem efêmeras e não totalmente agrupadas; das pessoas poderem pertencer a várias tribos diferentes; dos laços pós-modernos das tribos serem conceituais; e por seus membros relacionarem-se pelo compartilhamento de sensações[2]. Um dos fundadores do Tinder, conhecido aplicativo de paquera, declarou que “o objetivo da plataforma é formar uma conexão e, não necessariamente, encontrar com alguém pessoalmente”. Como balanceador dessas relações efêmeras surgem outros aplicativos que apostam nas conexões formadas entre pessoas com proximidade social e espacial. É o caso do Kickoff, aplicativo semelhante ao Tinder, mas que baseia-se no círculo de amigos para sugerir possíveis perfis. 


Espaços virtuais transformaram-se em locais onde é quase inadmissível não possuir um perfil em alguma rede social. Na maioria dos sites é improvável não encontrarmos um hiperlink que permita a criação de um perfil, um acesso exclusivo para usuários ou a personalização de uma página de acordo com as preferências de quem a acessa. Essa é uma das estratégias que o Facebook utiliza para manter-se no mercado: dividir sua audiência pelos seus interesses em diferentes aplicativos e investir nas plataformas móveis (Instagram, Messenger, Whatsapp) para recolher informações mais detalhadas sobre o usuário. Essas estratégias ajudam o algoritmo do Facebook a entender qual o melhor lugar para ele impactar os usuários com publicidade e assim a empresa deixa os anunciantes mais satisfeitos. Bernard Cova (1997) diz que as empresas que pretendem direcionar seus negócios para as organizações sociais no formato de tribos, devem tirar o foco das relações clientes-empresa e passar a privilegiar a relação entre os clientes[3]. A fidelização das relações virtuais pela forma cognitiva é substituída pelas relações afetivas.

Fontes
[2] COVA, Bernard e COVA, Véronique. Tribal Marketing: the tribalisation of society and its impact on the conduct of marketing. European Journal of Marketing, Vol. 36, nº 5/6, pp. 595-620, 2002.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

A Era do Conteúdo Digital: novidades, vantagens e desafios

Graças aos novos formatos de mídia na internet, a produção de conteúdo digital se expandiu e continua se expandindo progressivamente. Mas, afinal, o que vem a ser conteúdo digital? É todo aquele conteúdo disponível em plataformas digitais, que tem por característica vantagens técnicas em relação ao conteúdo analógico, como: facilidade de produção, reprodução e manipulação. 

Num vídeo sobre obsolescência da educação, Manuell Castells cita um trabalho de um aluno publicado na Revista Science, no qual calculou que 97% da informação do planeta está hoje digitalizada e 80% dela se encontra na internet. As tais facilidades de reprodução digital rapidamente se tornaram um problema para a gestão de direitos autorais, justo que se consolidou como um modo muito mais fácil de gerar cópias, o que, na prática, acabou por favorecer o mercado de pirataria. 

A batalha dos artistas em receber direitos autorais pelas músicas disponibilizadas no Youtube está agora nas mãos da justiça brasileira. O Google está há 27 meses sem pagá-los. Em sua página no Facebook a cantora Mallu Magalhães desabafou: "Sou filha da internet e otimista por natureza. Mas tenho perdido a fé que de os gigantes finalmente demonstrem respeito e honestidade não só aos músicos como a todos os produtores de conteúdo. Não é nada justo que o veículo, que depende do conteúdo, seja o único remunerado do negócio".

A sede por conteúdos gratuitos está refletida na pesquisa Internet Pop, do Ibope Media, realizada no ano passado. Segundo a mesma, a maioria dos brasileiros consome apenas conteúdo digital de graça. Essa fatia corresponde a 75% de usuários de smartphones (três em cada quatro donos de aparelhos) que preferem usar apenas aplicativos gratuitos. Somente 14% deles acessam serviços pagos de vídeo, como o Netflix. Por conta disso, a gerente de Learning & Insights do Ipobe Media, Juliana Sawaia, alerta que desenvolvedores de aplicativos precisam pensar no valor agregado do produto. "Se este promete trazer uma resposta que um grande público espera, é possível cobrar algo em torno de dois dólares, por exemplo, mas tudo depende do produto", aponta ela. 

A emergência de dispositivos móveis, bem como o consequente surgimento de aplicativos móveis, fez expandir a produção de conteúdo em convergência. A distribuição de conteúdos em multiplataformas ainda se encontra numa fase de transição, com adequação destes às interfaces, mas pouca exploração dos potenciais dos sistemas móveis. Fazer os conteúdos irem além, cruzar outras mídias (crossmedia), é algo que está acontecendo gradualmente. Lançado há pouco tempo pelo Twitter, o aplicativo Periscope entra nessa perspectiva. Com ele é possível produzir vídeos de acontecimentos ao vivo e a transmissão se dá através do microblog. 

Como produtores de conteúdo, os jornais estão enfrentando desafios na convergência para estes formatos. Recentemente, o Google reformou o algoritmo de exibição de sites. Agora, além de ter design adequado, as páginas deverão ser otimizadas para carregar em smartphones. As que não se adaptarem a esse modelo não serão ranqueadas entre os primeiros resultados. Segundo o próprio Google, essa é uma resposta à tendência de uso dos dispositivos móveis em relação aos browsers. Para o jornalismo, o trabalho por trás de desenvolvimento SEO* é dispendioso, pois além de jornalistas e designers, agora são necessários programadores. Os jornalistas do agora e do futuro precisam se preparar. Para Raju Narisetti, vice-presidente sênior da News Corporations, é preciso também pensar em fazer as notícias chegarem ao leitor, já que com o advento das redes sociais, principalmente o Facebook, o público já não se empenha em buscar a notícia.

*Search Engine Optimization (SEO) é um conjunto de métodos que visam melhorar o posicionamento de suas páginas no mecanismo de busca e também técnicas capazes de alterar ou melhorar aspectos internos de um site.

Jornais baianos. Apenas A Tarde e Tribuna da Bahia estão otimizados para mobile.

O momento sociocultural é favorável ao mercado móvel e a publicidade já está atenta a esse nicho. Para continuar faturando com a produção de conteúdo, sites, jornais, revistas e outros veículos de comunicação apostaram na convergência para o meio digital. O paywall, por exemplo, é um sistema de ganho por assinatura baseado na oferta de conteúdos digitais restritos. Essa foi uma das formas encontradas de se diversificar a receita após a diminuição das tiragens impressas. A Folha de S. Paulo é um dos jornais que adotam paywall no Brasil, ela oferece um limite de acesso de até 20 páginas mensais. Essa alternativa de disponibilizar uma demonstração do conteúdo de forma gratuita se configura como uma estratégia para que o usuário deseje adquirir assinatura com maior limite. 

O conceito de mídia, incluindo as móveis, está cada vez mais complexo no contexto de inovação digital. Surge um novo sistema de comunicações em que se fala de cultura de participação. As narrativas estão cada dia mais democráticas, o que quer dizer que qualquer um que possua acesso à internet pode disseminar conteúdo através dos mais diversos canais. Inteligência coletiva, meus amigos. O mundo está conectado, eis a era digital. Um comercial no mínimo divertido produzido pela MTS anuncia esses novos tempos em que já "nascemos super conectados":

  

Fontes:
BARBOSA, Suzana. ; SILVA, Fernando Firmino da ; NOGUEIRA, Leila. . Análise da convergência de conteúdos em produtos jornalísticos com presença multiplataforma. Mídia e Cotidiano, v. v.2, p. 139-162, 2013.
Vídeo: Cultura da Convergência - Henry Jenkins
Vídeo: Free - O futuro é grátis (Chris Anderson)